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Arquitetura Áulica | Palácio Nacional de Seteais

Palácio Nacional de Seteais

Palácio Nacional de Seteais

O majestoso Palácio Nacional de Seteais é, há mais de dois séculos, parte integrante da exuberante paisagem histórico-artística da serra de Sintra. O local onde foi edificado faz dele um autêntico miradouro para a fascinante região saloia e, no seu seguimento, o imenso Oceano Atlântico. Este “glorioso Éden”, como lhe chamou Byron, que de longe se vê pontuado de palácios e castelos, que inevitavelmente nos povoam o imaginário e nos transportam para um conto de fadas ou nos envolvem num sonho que, quem sabe, será ou não real. A articulação entre a obra do Homem e a Natureza que o rodeia harmoniza-se num conjunto único de rara beleza.

Um local tão deslumbrante tinha que inevitavelmente ter uma lenda associada. O topónimo Seteais, segundo a narrativa, pode derivar de quando se dizia a palavra “ai” e o seu eco repetia-se por sete vezes; e de “seteais” a Sete ais foi um passo. Por outro lado, e segundo os investigadores que estudaram a extensa documentação relativa ao Campo de Seteais que se conserva no Arquivo Histórico de Sintra, sabe-se que antigamente aquele local se chamava Centeais por ser terra de centeio. É quase certo que o atual topónimo se deve a este antigo nome. Acreditamos, portanto, que a origem do topónimo provirá da palavra Centeais (campos de centeio) e não, como sugere a lenda que em cima descrevemos, do eco de “ai”.

Nos finais do século XVIII, mais exatamente em 1783, Daniel Gildemeester, que ocupava o cargo de Cônsulda Holanda em Portugal, adquiriu uns terrenos na zona de «ginjais e serrados» no termo de Sintra para aí edificar um palácio. Este importante, rico e influente cidadão holandês, comerciante de diamantes, foi protegido do Marquês de Pombal. Pouco tempo depois da sua estadia no Reino, Gildemeester já detinha o monopólio do comércio de diamantes com o Brasil. O Marquês tinha este homem em grande conta. A título de exemplo, a casa alugada onde o cidadão holandês vivia em Lisboa, na Rua das Janelas Verdes, era da família do ministro de estado, assim como outra propriedade que alugava em Sintra para veranear antes de este ter habitação própria naquela vila.

Assim, no dia 25 deJulho de 1787, data do seu aniversário, foi inaugurado o novo palácio de Seteais, tendo como convidado um dos homens mais ricos de Inglaterra – o súbdito inglês William Beckford. Implantado na parte setentrional da serra, o novo palácio harmoniza-se com a verdejante e exuberante paisagem de sonho que o rodeia, acrescido de lago e mirante que tornaram o local ainda mais belo. Gildemeester mandou conduzir água das nascentes da serra até ao Campo de Seteais para alimentar a casa, os jardins, os pomares e outras árvores que ali plantou.

Contudo, o destino de Seteais estava ainda no início da sua longa caminhada e viria a afirmar-se como um dos mais importantes pontos de passagem de Sintra. Após a morte de Gildemeester e passados quatro anos, a sua viúva, D. Joanade Goran, vendeu a propriedade ao 5.ºMarquês de Marialva, D. Diogo José de Vito Menezes Noronha Coutinho, Estribeiro-Mor da Rainha. O novo proprietário empreendeu obras de beneficiação em toda a propriedade, começando por plantar uma grande quantidade de árvores e solicitar o encerramento do Campo de Seteais, o que provocou a revolta da população. A Câmara Municipal de Sintra, em 1801, no seguimento do aforamento do Campo de Seteais, aplica a proibição do seu encerramento e determina a obrigatoriedade de manter sempre abertas duas portas francas para a serventia do público, situação que se verifica ainda hoje. O não cumprimento destas diretivas implicava a perda do domínio do campo por parte do Marquês.

Ainda em 1801, foram efetuadas obras no palácio, nomeadamente nas cavalariças, e um novo corpo simétrico foi acrescentado à parte setentrional do palácio já existente. A união entre os dois volumes foi feita através de um arco triunfal que o tempo transformou num autêntico ícone de Seteais. O clássico traçado geométrico das duas fachadas rigorosamente simétricas encontra no arco central um equilíbrio notável, terminando num frontão ilusório, encimado por um medalhão de bronze com as efígies dos Príncipes D. João e D. Carlota Joaquina. Por baixo, uma cartela de pedra bem lavrada ostentando uma epígrafe dedicada ao Príncipe Regente, decorada com florões.

Entre os dois edifícios e após passarmos o arco triunfal, encontramos um miradouro que nos deixa sem fôlego, seja quando olhamos a vasta planície que se afunda na imensidão marítima do Oceano Atlântico, seja no regresso desse mesmo miradouro e, enquadrado sob o arco triunfal, o recorte singular do Palácio da Pena, que parece saído de um conto de fadas. São quase irreais as imagens que os nossos olhos observam: de cada lado do arco, dois bustos petrificados, ao estilo italianizante, seguidos depois por vasos e grinaldas, que ornamentam alternadamente o ático dos edifícios. A parte frontal do conjunto tem um enorme e verdejante campo relvado que torna todo o cenário ainda mais belo. Terraços e um majestoso jardim de buxo nas traseiras são outras das estruturas que beneficiam este espaço admirável.

O 5ºMarquês de Marialva morreu a 14 deAgostode 1803 e o palácio conservou a traça por ele deixada até aos nossos dias. Em Agosto de 1834 e por sentença de partilha, sucede na posse de Seteais a filha mais nova do Marquês, D. Joaquinade Menezes, Marquesa do Louriçal, que passa a temporada de Verão no palácio no período de 1834 a 1846, onde manda realizar alguns melhoramentos (destacando-se, segundo uma litografia de Michelisde 1843, dois nichos com estatuária a ladear o arco triunfal).

Em 1846, D. Joaquina morre sem herdeiros ascendentes e descendentes, pelo que toda a propriedade passa para o sobrinho, D. Nuno José de Moura Barreto, 1.º Duque de Loulé. Em 1867, porém, Inácio de Vilhena Barbosa descreve já o palácio em ruínas, mas ainda forrado com sedas e o jardim abandonado.

Desde o último quartel do século XIX que o palácio foi sucessivamente hipotecado. Finalmente, em 1939, apropriedade acabou por ser penhorada a favor da Fazenda Nacional. O Estado Português adquiriu Seteais a 15 de Outubrode 1946 e em 1950 dá início às obras de adaptação hoteleira pela Direção dos Serviços dos Monumentos Nacionais. O Hotel Palácio de Seteais foi inaugurado quatro anos mais tarde e é hoje uma das mais famosas e luxuosas unidades hoteleiras de Sintra.